Análise da evolução do bloco, seu impacto geoeconômico e as tensões com o Ocidente

Palavras-chave: BRICS 2025, expansão BRICS, desdolarização, Global South, nova ordem global, multilateralismo, G7 vs BRICS
Meta-descrição: Análise completa do BRICS em 2025: expansão histórica, tensões com EUA, agenda de desdolarização, e o papel como voz do Global South. Impactos na economia global.
Categoria: Economia Global, Política Internacional, Relações Internacionais
Tags: BRICS, economia global, Global South, multilateralismo, EUA, desdolarização, nova ordem mundial
Alt text imagem principal: Mapa-múndi com países membros do BRICS+ destacados em dourado – expansão BRICS 2025
Introdução: O BRICS como Contraponto à Hegemonia Ocidental
O BRICS em 2025 consolida-se como uma força geopolítica e econômica capaz de desafiar a tradicional hegemonia ocidental liderada pelos Estados Unidos. Com uma expansão histórica que incorporou cinco novos membros em 2024 e outros em 2025, incluindo a Indonésia, o bloco representa agora 46% da população mundial e 35,6% do PIB global (em paridade de poder de compra), superando economicamente o G7 3. Este crescimento ocorre em um contexto de crescentes tensões com a administração Trump, que tem adotado uma postura agressiva contra o grupo através de ameaças de tarifas comerciais punitivas 1.
Este artigo examina a transformação do BRICS de um acrônimo econômico para um bloco político estratégico, analisando sua arquitetura institucional, agenda multilateral, e os desafios que enfrenta em um mundo cada vez mais fragmentado.
A Expansão do BRICS: Novos Membros e Maior Representatividade
A Nova Configuração do Bloco
O BRICS passou por uma significativa transformação estrutural em janeiro de 2024, quando incorporou cinco novos membros: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes e, posteriormente, a Indonésia em 2025 12. Esta expansão não apenas aumentou o peso demográfico e econômico do grupo, mas também ampliou sua diversidade geopolítica e representatividade regional.
Além dos membros plenos, o bloco estabeleceu parcerias com outras 13 nações, incluindo:
- 🇲🇾 Malásia
- 🇹🇭 Tailândia
- 🇻🇳 Vietnã
- 🇧🇾 Belarus
- 🇧🇴 Bolívia
- 🇨🇺 Cuba
- 🇰🇿 Cazaquistão
- 🇺🇿 Uzbequistão
- 🇺🇬 Uganda
- 🇳🇬 Nigéria
Esta expansão estratégica fortalece o BRICS como uma plataforma alternativa para países do Global South que buscam maior autonomia em relação às instituições financeiras tradicionais dominadas pelo Ocidente 3.
Lógica por Trás da Expansão
A adesão de novos membros obedece a uma lógica pragmática e diversificada. No caso da Indonésia, por exemplo, a decisão de ingressar no bloco foi motivada principalmente pelo desejo de aprofundar relações bilaterais com a China para aumentar comércio e investimentos, além de avançar em sua agenda de diplomacia climática 1.
Para países menores, a membresia oferece acesso a mecanismos de financiamento alternativos, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), e maior poder de negociação coletiva em fóruns internacionais 1.
A Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro: Principais Resultados
Declaração Conjunta e Agenda Multilateral
A 17ª Cúpula do BRICS, realizada em 6-7 de julho de 2025 no Rio de Janeiro, resultou em uma declaração conjunta histórica intitulada “Fortalecendo a Cooperação do Global South para uma Governança Global Mais Inclusiva e Sustentável”. O documento incluiu 126 compromissos cobrindo áreas diversas como:
- 🏛️ Governança global
- 💰 Finanças
- 🏥 Saúde
- 🤖 Inteligência artificial
- 🌍 Mudanças climáticas
- ☮️ Paz e segurança
- 👥 Cooperação cultural e entre povos 1
Posicionamento Geopolítico
O bloco adotou uma postura firme em relação a conflitos internacionais, condenando unanimemente:

- Os ataques militares israelenses e americanos no Irã
- A guerra contínua de Israel contra palestinos em Gaza
- As violações repetidas dos acordos de cessar-fogo com o Líbano 1
Além disso, expressou apoio aos esforços de paz na Síria, Sudão e outras regiões em conflito, posicionando-se como uma voz coletiva contra guerras e agressões globais 1.
A Agenda Econômica e Financeira: Desafios e Inovações
Reforma do Sistema Financeiro Internacional
Um dos aspectos mais significativos da cúpula de 2025 foi o foco em reformas financeiras globais. Pela primeira vez, o BRICS emitiu três declarações específicas sobre finanças, além de uma declaração separada sobre financiamento climático 1.
As demandas centrais incluíram:
- 🔄 Reforma das quotas do FMI
- 📝 Revisão do “acordo de cavalheiros” sobre representação no FMI e Banco Mundial
- 🏛️ Apoio à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Cooperação Tributária Internacional 1
Avanços em Mecanismos Financeiros
O summit introduziu uma nova característica importante: a criação de um mecanismo multilateral de garantia, a ser incubado dentro do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Este mecanismo visa fornecer alternativas aos sistemas de garantia dominados por instituições ocidentais 1.
Entretanto, muitas expectativas não foram completamente atendidas, como a implementação plena do Acordo de Reservas Contingentes (CRA), cujo tratado fundador ainda está em revisão para incluir novos membros e expandir o uso de moedas locais 1.
Tensões com os Estados Unidos: A Guerra Comercial em Potencial
A Postura Antagônica de Trump
A administração Trump tem mantido uma postura consistentemente hostil em relação ao BRICS. Em novembro de 2024, em resposta às discussões entre membros do BRICS sobre a weaponização do dólar e possíveis esforços de desdolarização, Trump ameaçou aplicar tarifas de 100% sobre os membros do grupo 1.
Em julho de 2025, a ameaça foi ampliada, com o governo americano propondo tarifas adicionais de 10% caso os países do BRICS perseguissem “políticas anti-americanas” 1.
A Resposta Estratégica do BRICS
Diante dessas ameaças, o BRICS adotou uma postura cautelosa mas firme. Em sua Declaração Conjunta, o grupo evitou mencionar diretamente os Estados Unidos, mas expressou “sérias preocupações sobre a ascensão de medidas tarifárias e não-tarifárias unilaterais” e reafirmou seu compromisso com o fortalecimento do multilateralismo 1.
Esta abordagem reflete uma estratégia diplomática calculada para evitar escalar tensões, enquanto continua a expandir sua influência global.
Desafios Internos e Heterogeneidade
Diversidade de Interesses e Prioridades
Apesar de seu crescimento impressionante, o BRICS enfrenta desafios significativos relacionados à heterogeneidade de seus membros. As consideráveis diferenças em:
- Sistemas políticos
- Interesses econômicos
- Alianças geopolíticas
- Níveis de desenvolvimento
podem dificultar a formulação de políticas coesas e a implementação de agendas comuns 3.
Limitações à Integração Comercial
Estudos do Banque de France indicam que a baixa integração comercial entre os membros do BRICS+ limita a capacidade do grupo de influenciar substantivamente o comércio mundial e o sistema monetário internacional 3. Esta fragmentação comercial interna representa um obstáculo estrutural para ambitions de maior autonomia econômica coletiva.
O BRICS como Voz do Global South
Representatividade e Governança Global
O BRICS posiciona-se cada vez mais como porta-voz dos interesses do Global South. Como observou o presidente Lula em seu discurso de abertura da cúpula de 2025: “Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século 21, cabe ao BRICS contribuir para atualizá-la” 1.
Esta narrativa ressoa entre muitos países em desenvolvimento que se sentem sub-representados nas instituições de governança global tradicionais, como o Conselho de Segurança da ONU, o FMI e o Banco Mundial 1.
Atração Contínua para Novos Membros
Apesar dos desafios, a atratividade do BRICS continua forte. Países como Senegal e Quênia estão atualmente negociando sua adesão ao grupo, indicando que a expansão provavelmente continuará nos próximos anos 1.
Entretanto, o grupo ainda não estabeleceu publicamente uma estratégia de expansão formalizada ou critérios explícitos de adesão, o que pode criar desafios de coerência futuros 1.
Perspectivas Futuras: Cenários Possíveis
Cenário 1: Consolidação e Maior Coesão
Caso o BRICS consiga desenvolver mecanismos institucionais mais fortes e superar suas divergências internas, poderá emergir como um contrapeso eficaz à influência ocidental, oferecendo alternativas viáveis em áreas como financiamento de desenvolvimento, comércio internacional e segurança coletiva.
Cenário 2: Fragmentação e Estagnação
Alternativamente, as divergências internas e pressões externas podem limitar a eficácia do bloco, resultando em uma estagnação relativa onde a retórica ambiciosa não se traduz em ações concretas e coordenadas.
Cenário 3: Polarização Global Acelerada
As tensões com os Estados Unidos podem se intensificar, levando a uma maior polarização do sistema internacional em blocos econômicos e políticos concorrentes, com implicações potencialmente negativas para a cooperação global em desafios comuns como mudança climática e segurança sanitária.
Conclusão: Um Bloco em Transformação Contínua
O BRICS em 2025 representa uma evolução significativa na arquitetura de governança global. De um acrônimo econômico cunhado por Jim O’Neill em 2001, transformou-se em um fórum político estratégico que desafia a ordem internacional liderada pelo Ocidente 3.
A expansão recente aumentou substantivamente seu peso demográfico e econômico, enquanto as tensões com os EUA sob a administração Trump destacam a crescente rivalidade geopolítica entre o bloco e as potências ocidentais tradicionais 13.
No entanto, desafios internos significativos permanecem, particularmente a heterogeneidade de interesses entre membros e a limitada integração comercial intrabloco 3. A capacidade do BRICS de superar estas divisões e implementar uma agenda coerente determinará seu sucesso futuro em moldar uma ordem global verdadeiramente multipolar.
O BRICS continua uma obra em construção – um experimento ambicioso em cooperação Sul-Sul que pode redefinir as relações de poder globais nas décadas vindouras.
Referências:
- Stimson Institute – 2025 BRICS Summit: Takeaways and Projections
- Ministério das Relações Exteriores da China – Perfil do BRICS
- Banque de France Bulletin – Expansão do BRICS: consequências para a economia global